Mapa do Encontro n° 01 - rua de entrada do sesc pompéia (continuação)
Domingo, oito de outubro de 2006, 15h30min. Cheguei ao Sesc sozinha. Virei a esquina e dei de frente com a bela rua de entrada. Fiquei tentando encontrar as forças daquele lugar, estivessem elas no movimento das pessoas ou nos detalhes projetuais. Ao percorrer a rua, encontrei dois amigos. Pronto: meu encontro não poderia mais ser feito solitariamente. Fiquei muito feliz com isso, porque agora meu plano de composição do espaço naquele dia contava com a rua de entrada, eu e meus dois amigos; além das outras pessoas que eu não conhecia. Junto com meus amigos, resolvi tomar um café na lanchonete que também se situa nessa rua. Ficamos conversando um tempo sobre a coincidência de termos nos encontrado ali. Eu disse a eles que como os havia encontrado, teríamos que conversar melhor sobre isso. Pedi então que fôssemos para um local tranqüilo para conversarmos. Fomos para perto de um corrimão e nos apoiamos nele. O corrimão ficava próximo a um elemento de solo, de escoamento de água. Ficamos um tempo em pé, encostados ali, e logo depois nos sentamos no que eu chamo de ‘rasgo’. Na verdade, o rasgo é a própria calha por onde escoa a água. Como essa calha percorre toda a rua em sua longitudinal, chamo de rasgo. Sentamos então nesse lugar e ficamos extremamente confortáveis. Eles se sentaram de frente para mim e ficamos conversando por muito tempo. Nossas pernas cabiam muito bem naquele espaço, parecia que o rasgo havia sido feito para aquele momento. Percebi então que ele funcionava maravilhosamente bem enquanto um banco, muito confortável e ergonômico. Depois disso, nos levantamos, eles foram embora. Fiquei ainda um tempo por ali tirando umas fotografias. Quando estava indo embora para minha casa, toda a teoria que estudava há algum tempo foi exemplificada através de um passeio de domingo: uma comunicação perfeita entre o espaço e meu corpo havia sido realizada.
Como descobrimos que esse rasgo poderia funcionar tão bem enquanto um banco? Eis aqui a comunicação entre o corpo e o espaço. O espaço não ditou as regras e nem nossos corpos estavam à procura de um banco. A situação de nossos corpos estarem ali naquele espaço, naquele momento, conversando e batendo papo nos levou a eleger esse local como um banco. Não houve um dado à priori. Imagino que nesse acontecimento o conceito de interatividade foi cumprido e levado às últimas conseqüências. Interagimos perfeitamente porque nosso corpo olhou aquele rasgo e lançou uma informação no mesmo momento em que o espaço se colocou a disposição para que qualquer ação fosse realizada. Realmente um corpo estava empenhado em relacionar-se com a cidade, e a cidade nessa relação causou uma mudança no corpo. Um mapa então foi formado através do encontro de uma paisagem interna (imagens, memórias e sensações que já existiam internamente no corpo), com a paisagem externa (espaço), através de um fenômeno relacional. Um mapa que fala do meio interno, do meio externo e da relação existente entre eles. Ou seja, nosso corpo, que já possuía um estado corporal representado em um mapa interno se ajustou no momento em que recebeu sinais comunicativos provenientes da cidade, levando-o a reconstruir seu antigo estado corporal (seu antigo mapa). Eis aqui porque o estudo dos mapas é acima de tudo um estudo da representação contemporânea, não podendo mais ser tratado enquanto uma representação fixa e dura: a cada nova ação e sensação os mapas vão sendo alterados, reorganizados. A representação é feita na ação e pela ação, não podendo ser tratada enquanto registro tardio. A representação é feita no ato de encontrar, levando-nos, portanto a uma discussão do tempo enquanto peça chave para essa nova forma de se ‘desenhar’ a comunicação, as artes, a arquitetura e ainda outras áreas.
2 Comments:
Oi...
bom..vc n me conhece...
foi o Léo q me passou seu blog...
talvez por eu ser estudante de arq...
podemos trocar ideias..
seu blog eh interessantíssimo..parabens!
t+...
Helo. Muito interessante o conceito por tras do seu trabalho. A propria Fisica admite que a presenca de um corpo no epaco-tempo deforma esse espaco. Alias, toda a Teoria da Relatividade Geral de Einstein esta fundamentada nessa hipotese. Voltando a um plano menos abstrato, concordo plenamente que os corpos tem a capacidade de alterar a arquitetura de um lugar, especialmente porque eles talvez sejam as mais complexas arquiteturas ja desenhadas. E eh impossivel nao concordar que corpos e arquiteturas, qualquer seja a definicao utilizada, interagem entre si formando algo muito mais complexo. Assim, acho fantastico o seu trabalho de estudar maneiras de capturar essa interacao em MAPAS... Boa sorte. Bj.
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